domingo, 26 de dezembro de 2010

Holger - Sunga (2010)

Bons, esses tempos em que vivemos para quem gosta de música. Nos últimos anos, ganhamos acesso a tudo de bom que foi gravado em qualquer época em qualquer ponto do globo. O Holger é fruto de uma geração que desenvolveu seu gosto musical baseada nesse acesso irrestrito. Adolescentes, descobriram o indie rock de bandas como Flaming Lips, Wilco e Pavement e mergulharam no post rock do Mogwai e godspeed you! black emperor. Lá pelos 16 anos, três deles (Pata, Arthur, Pepe) aventuraram-se pelo estilo com uma banda chamada projeto:, que ainda contava com a Irina, hoje no internacional Garotas Suecas.

O passo seguinte foi brincar de folk improvisado, com o projeto That’s All Folks, embrião do que seria o Holger, que já contava com o Tché e o Rolla. Das sessions bêbadas em playgrounds, surgiram dezenas de músicas. Algumas delas, dois anos depois, foram parar no EP Green Valley, que mostrou o Holger ao mundo. O EP incorporava influências do folk rock, indie rock e até resvalava de leve no New Order em canções que soavam como ritos de passagem à vida adulta. Foi bem recebido, mas o que chamava a atenção mesmo eram o shows, sempre imprevisíveis, sempre selvagens.

Com o público crescendo na base do boca a boca, abriram no Brasil para bandas como Dirty Projectors, No Age e Matt and Kim. Também viajaram aos EUA e Canadá, onde tocaram nos festivais SXSW e Pop Montreal. A experiência internacional arejou a cabeça da molecada. Estavam lado a lado com ídolos e a todo tempo descobrindo novas bandas e novas maneiras de fazer música.

Passaram verões na praia escutando coletâneas de música africana, caribenha e latina. Resgataram os discos de música brasileira dos pais. Descobriram nos clubes a nova música eletrônica que se faz mundo afora. Abriram os olhos para gêneros geralmente desprezados pelo público dito indie. Enfim, cresceram, expandiram os horizontes musicais, descobriram o novo onde menos esperavam. Disso, nasceu o Sunga. O título escolhido veio de uma brincadeira das mais sérias. Para eles, assumir a Sunga é deixar de ser criança. Deixar a bermuda de lado é deixar pra trás velhos preconceitos.

Para chegar onde queriam musicalmente, contaram com a ajuda do produtor Roger Paul Mason, importado do Brooklyn por sugestão do baterista do Dirty Projectors. Juntos, eles se internaram no home studio da banda por cerca de um mês e saíram de lá com um dos mais surpreendentes discos já feitos por uma banda de indie rock no Brasil.

No Brakes” abre o disco com batucada para, pouco depois, ser soterrada por guitarras duras do indie rock clássico e vocais em coro, com pinta de hino. Logo, uma guitarra cheia de ginga chega pra quebrar a seriedadade e mostrar que o Holger quer mesmo é se divertir.

Falando em diversão, o disco segue com “She Dances”, favorita dos shows. Um estranho vocal em falsete à Danielson discorre sobre uma garota na pista de dança, enquanto a banda chama para a festa com tamborins, sinths, vocoder e guitarras à Modest Mouse.

Let’em Shine Below”, o primeiro single, foi apelidada “Axé” pelos integrandes da banda. Tem cadência roubada do gênero baiano, efeitos vocais à Flaming Lips e uma guitarrinha pra lá de safada.

Em seguida, “Transfinite” chega com uma linha de baixo simples, belo arranjo vocal e bateria que dita as mudanças de clima. De um rock direto, a faixa emenda um quase baião eletrônico para finalizar com uma guitarrinha que soa como chicha, a surf music dos Andes.

O título de “Caribean Nights” não deixa dúvidas: é som de verão, com eclados com som de steel drums, percussão caliente e guitarras que flertam com calypso. O refão barulhento e o final apocalíptico lembram que as tempestades na estação também são as mais intensas.

Toothles Turtles” é um rock dançante, com melodia de AM. Os breaks bizarros só tornam as coias mais interessantes: seja num coro de rock de arena, seja num teclado descaradamente poperô. Se o Broken Social Scene decidisse ser uma banda de pop, provavelmente soaria assim.

Na primeira visita que fez à Montreal, o Holger conheceu a figura local Beaver Sheppard, músico, artista plástico e grande conzinheiro. “Beaver” é inspirada em um sanduíche preparado pelo cara. Soa como o Akron/Family em um passeio por um terreiro.

Cheia de mundanças de andamento, “Undesirable Regrets” cita a Bíblia e faz dançar, enquanto “Who Knows” é o indie rock para agradar os antigos fãs da banda - ainda que surpreenda com efeitos eletrônicos e um brake calcado no math rock.

Eagle” começa com bateria eletrônica uma levada que parece prima do kuduro, para desenbocar em uma balada com letra baseada em história real sobre loops de guitarra e samples, para voltar ao semi-kuduro no refão.

Fechando, “Geneçambique” é uma jam instrumental que remete aos tempos de post-rock dos integrantes da banda. Mas aqui eles vão além, brincado com efeitos de estúdio, auto-tune e bateira Casio.

Assumindo a sunga, munidos de good vibe, boas ideias e referências, além da cara-de-pau e a coragem que só moleques nos seus vinte e poucos conseguem ter, o Holger consegue em seu primeiro álbum um feito e tanto: eles tropicalizaram o indie rock. E convidam para a festa. Só não pode chegar de bermuda. (Trama Virtual)

Holger é Arthur, Pata ,Pepe, Rolla e Tché
Sunga foi produzido por Roger Paul Mason

O download está disponível no banner da Trama logo abaixo.


Tracklist:

01. No Brakes
02. She Dances
03. Let'em Shine Below
04. Transfinite
05. Caribbean Nights
06. Toothless Turtles
07. Beaver
08. Undesireble Regrets
09. Who Knows
10. Eagle
11. Gencambique











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